Apologética Católica

 O exorcismo explicado pelo padre exorcista
José Antônio Fortea
 
 
          Ao final da nona pergunta, entre uma lista com uns 20 questionamentos, o padre José Antonio Fortea, 46, interrompeu a entrevista perguntando se eu gostaria de uma benção. Sem jeito com a situação inusitada, acabei aceitando. A voz mansa e contida desse espanhol, que aparenta mais que a idade que tem, ficou ainda mais diminuída durante a oração.
 
              Em determinado momento, pediu que eu desligasse meu gravador. Colocou a mão na minha cabeça e sugeriu: “Por que no cerras tus ojos?”. Fechar os olhos ali, no meio de dezenas de pessoas passando é um exercício que não estava preparado para fazer.
 
         Fui para entrevistar esse religioso, que passou por Franca em dois dias de encontros com outros padres e integrantes da comunidade Cenáculo. Ao final da oração, sem que nada tivesse dito a ele, lamentou minha falta de fé: “Por que tanta dificuldade em acreditar em Deus?”.
 
             O que fez despertar a vontade de conversar com José Antonio Fortea foi o ofício a que se dedica. Ele é um dos cinco padres exorcistas em atividade na Espanha e o mais conhecido por lá. Seus livros e estudos sobre demonologia são, entre os entendidos, referência mundial no assunto, a começar por seu trabalho Summa Daemoniaca, um tratado sobre o assunto.
 
            O padre Fortea veio a Franca,,São Paulo, acompanhado do colega Alexandre Paciolli, pároco na Gávea, no Rio de Janeiro, depois de passar por Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Assim como o espanhol, o brasileiro é dedicado aos estudos do exorcismo no Brasil, tendo viajado por alguns países para tratar do assunto. É também membro da Associação Internacional de Exorcismo.
 
          Conversar sobre isso é uma dificuldade, marcada sobretudo, pessoalmente, pela desconfiança de sua ocorrência, e pela maneira como as lideranças católicas tratam o exorcismo, prática secular, como o próprio cristianismo.
 
          Paciolli explicou que os casos de possessão, o mais grave, são raros, porque a manifestação demoníaca ordinária é a tentação, caracterizada, segundo suas palavras, por atos ou situações sobre as quais a pessoa não possui muito controle.

        Entre uma e outra está a obsessão, que ocorre atingindo os sentidos internos e externos, envolvendo a imaginação, tato e olfato. A pessoa tem visões, sente cheiros fortes, putrefatos. A dificuldade adicional é que todos os indícios podem ser confundidos com um problema psicológico. “A intervenção do exorcista é importante porque essas pessoas, muitas vezes sem saber, tiveram contato com as forças do maligno e estão infestadas por elas, sofrendo uma pressão tremenda, incluindo uma doença”, disse o padre Paciolli.
 
         No estágio mais severo - a possessão -, o demônio toma conta do corpo. É quando se verificam reações estranhas, com o padre falando em latim e a pessoa, sem nunca ter tido contato com a língua, respondendo no mesmo idioma, ou quando o religioso se aproxima com a relíquia de um santo e o possuído identifica o objeto e pede para se afastar dele.
 
           Falar línguas não conhecidas, usar de força física que nitidamente não existe em condições normais, posições humanamente impossíveis de serem feitas, como caminhar por paredes, são os sinais já presenciados pelo padre Paciolli em suas intervenções.
 
           O padre carioca reforçou o que José Antonio Fortea dissera na entrevista, falando sobre a preocupação pontual da igreja com os raros casos de possessão, sem descuidar da pastoral e das atividades mais comuns a que se dedica.
 
          Os que os dois discordaram foi sobre a forma como a mídia ou a indústria do entretenimento abordam a questão. Para Paciolli, a tendência é seguir pelo viés do sensacionalismo. “Eu não posso fazer do exorcismo um show. Eu não posso chegar na televisão e apresentar uma pessoa possuída”, disse. “É muito particular e há sofrimento. Vi coisas muito sérias, mas que só ajudaram a aumentar ainda mais a minha fé.”
 
           Sem excluir responsabilidade de padres que cometeram excessos públicos em sessões de exorcismo, Alexandre Paciolli disse que algumas religiões tratam o tema com absoluto respeito, enquanto que outras caíram no exagero. “Conheço pastores evangélicos extremamente sérios e respeitosos. Tudo depende da pessoa que está trabalhando”, argumentou. “É preciso saber que leigos só podem fazer o trabalho de libertação, que é orar para Deus que liberte a pessoa. O leigo não dá ordem direta ao demônio, não conversa com ele. Isso é prerrogativa do padre exorcista.”
 
         Fortea roda o mundo para palestras, para estudar casos de possessão demoníaca a para ministrar seu ofício a outros padres. Para que pudesse fortalecer sua atividade literária, vive atualmente em Alcalá de Henares, uma cidade de 200 mil habitantes, próxima a Madrid, onde atua como capelão de um hospital e de um convento. É pároco de Anchuelo, um povoado com 700 habitantes.

       Apesar da notoriedade mundial, da mesma maneira que todos os outros padres exorcistas, só pode atuar nos limites de sua diocese, com autorização do bispo responsável e nomeação pelo papa.
 
         Formado em Teologia pela Universidade de Navarra, Fortea nasceu em Barbastro, cidade natal de um conhecido personagem da Igreja Católica: José Maria Escrivá, o fundador da conservadora Opus Dei.
 
         Fleumático, educado e comedido nas respostas e comentários, após uma longa manhã de eventos, estendidas pelas dezenas de pedidos para tirar fotos ao lado de fiéis e participantes do Cenáculo, José Antonio Fortea concedeu a seguinte entrevista ao Comércio.
 
           O que o senhor faz exatamente em seu dia a dia? Agora mesmo estou dedicado aos livros. Este ano, assim como no anterior, foi-me concedido ser capelão de um convento e de um hospital e assim ter tempo tanto para as viagens quanto para os livros. Se procurar pelo site biblioteca forteana, verá que tenho me dedicado a escrever há muito tempo.
 
           Qual é a definição clássica do trabalho de um exorcista? O exorcismo é um ritual pelo qual a Igreja Católica expulsa o demônio quando este está possuindo a alguém. É isso, basicamente.
 
             Em algum momento o exorcismo se aproxima da prática do espiritismo, por exemplo? Em nada. Em todas as religiões monoteístas, cristãs, judias ou muçulmanas dizemos que Deus nos habita. Deus colocou uma separação entre o nosso mundo e os que existem além e nós não podemos rompê-la. Se fazemos, é justamente quando podemos ter problemas.
 
           O exorcismo não é uma prática exclusiva da Igreja Católica. Qual a diferença entre o ritual católico e os das demais religiões? 
Todos os seguidores de Jesus, sejam os mais diferentes, em determinado momento oram para as pessoas que sofrem problemas desse tipo. O objetivo é o mesmo.

             Qual a importância, hoje em dia, de seu ofício para a Igreja Católica? O ofício de exorcista existe para ajudar as pessoas que precisam desse ministério. É um serviço. A igreja não tem nenhum especial interesse em fazer exorcismos e se o faz é porque existem pessoas que necessitam. O exorcismo não é o mais importante dentro da igreja, mas sob outros aspectos, a evangelização, a ajuda aos pobres, aos doentes. O exorcismo existe apenas para os que necessitam.
 
             Por isso são tão poucos os padres que atuam como exorcistas? Sempre foram poucos. Se há mais necessidade, existem mais padres. Sempre fomos poucos.
 
              Como se debate esse assunto em pleno século 21?
Da mesma maneira que em todos os séculos. Não existe hora mais importante do que quando começou o cristianismo. Se existem pessoas que precisam de ajuda, Deus nos coloca à sua disposição.
 
            O avanço da sociedade e dos meios de comunicação não afetam o entendimento que se tem do exorcismo em comparação a outras épocas? O exorcismo é tratado de muitas maneiras pelos meios de comunicação. Há formas mais distorcidas e outras mais corretas, boas. Normalmente creio que seja tratado de maneira respeitosa. Mesmo quem não é católico ou cristão sabe que existe algo a mais. Não somos apenas átomos e moléculas.
 
          Como se define a possessão demoníaca? Como ela é detectada em uma pessoa? Orando pela pessoa, vemos quando algo se manifesta. Pessoas nos procuram dizendo que algo está se manifestando. É quando analisamos. Nos casos de possessão, as pessoas ficam muito furiosas, caem ao solo, gritam. São essas características. Isso não é normal; algo está se passando com ela. Falar línguas diferentes, que não conhece, também pode ser um sinal.
 
              Por que acontece com uma pessoa e não com outra? Não sei dizer. É um mistério. Não sabemos nada sobre essas coisas. O que sabemos é como tirar os maus espíritos. Mas não é claro porque eles entram no corpo de alguém.
 
             Quem é o demônio, padre? É um anjo caído.
 
           O seu caso mais conhecido, difundido pela imprensa, foi o de uma moça com o nome fictício de Marta, cujo trabalho durou cinco anos. Como está essa mulher hoje em dia? Já acabou (a possessão) há alguns anos. Ela tem uma vida normal. Conversamos de vez em quando.
 
             Por que demorou tanto tempo? Só Deus para responder.
 
             Como vive uma pessoa nessas condições, caso não haja alguém para interceder, como o senhor? Alguns sofrem por toda a vida. Outros levam uma vida mais ou menos normal.
 
             A possessão se dá apenas em católicos? Tenho casos de não-católicos, muçulmanos, gente com muitos estudos e pessoas ignorantes. Pessoas que creem e que não creem.
 
              É possível saber se está ocorrendo uma farsa? Em muitos casos a pessoa enferma crê que está possuída e acredita firmemente porque, afinal, está doente. Quando é assim, o trabalho é para um psiquiatra.


Fonte: GTN

Jaime Francisco é criador deste site. É Apologista Católico, Historiador, Estudioso da Igreja Primitiva e das doutrinas protestantes no Brasil e na América Latina. Publicou 03 obras em defesa da Fé Católica: "As diferenças entre Igreja Católica e Igrejas Protestantes" " Porque estes Protestantes tornaram - se Católicos" e "Lavagem Cerebral e Hipnose no meio Protestante" Maiores informações sobre os livros: www.respostascatolicas.webnode.com.br   Nestes últimos anos tem estudado profundamente sobre Psicologia e fenômenos  relacionados à demônologia.

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