Apologética Católica

Um demônio pode causar falsas visões?



               As naturezas Angélicas têm o poder de inspirar visões e locuções em qualquer mente humana. Agora, para evitar a confusão que esses acontecimentos podem causar às almas, caso ocorram com frequência, Deus praticamente não permite que se ocorram. Apenas os permite em raríssimas ocasiões e quando a pessoa tem meios para descobrir a verdade. E s Deus não controlasse o poder do demônio, esse apareceria continuamente, como um Anjo ou Santo. Há casos em que se revelou, inclusive, com aparência de Nosso Senhor Jesus Cristo.

              Num caso excepcional em que haja uma revelação mística a uma alma, e se o diretor espiritual entende que o demônio possa estar oculto, existem dois critérios que podem esclarecer:

  1 - Seguir toda inspiração que nos leve ao bem como se viesse de Deus;
             2 - Obedecer o diretor espiritual acima de toda revelação.

              Se uma revelação, aparição ou mensagem, seja verdadeira ou falsa, seja fruto da imaginação, do demônio ou de Deus, nos leva a fazer o bem, quer dizer, nos incita a executar obras de caridade, de oração, de sacrifício etc, então a sigamos como se viesse diretamente de Deus. Na pior das hipóteses, se for o demônio que estiver predicando o bem, por que não fazê-lo? Se o demônio nos predica o bom caminho, não devemos fazê-lo porque é mal o predicador? Com essa regra de conduta se elimina todo tipo de escrúpulo e se evitam perdas de tempo de buscar a origem das inspirações da alma.

             Agora, sempre se deve colocar à frente dessas supostas revelações a ordem do confessor ou diretor espiritual. Não importa a bondade e a nobreza que nos são solicitadas com essa suposta revelação; tudo deverá seguir a obediência ao confessor. Acrescento que aquilo que provém diretamente de Deus decorre pelos caminhos da obediência aos legítimos pastores. Receber revelações é um dom menor que a obediência.

             Assim, se as revelações provierem do demônio, ou entrarão em conflito com a obediência ao confessor, ou imediatamente deixarão de conduzir ao bem, intercalando incitação ao mal. O demônio pouco aguenta provocando o bem. Agora, se a revelação é de Deus, não há conflito entre revelação e diretor espiritual, pois a obediência a ele é a obediência a Deus por intermédio desse clérigo.

             A obediência a uma revelação é sempre uma obediência a uma suposta revelação. A o contrário, a obediência ao diretor espiritual sempre é algo santo, sempre é algo seguro.

             O dirigido deve recordar a máxima de obedecer sempre, desde que não seja pecado. O místico não somente não está liberado da obediência, como está sujeito a ela. E a razão disso é que o místico está sempre em perigo de cair em tentação. Por isso ele deve desconfiar mais do seu próprio juízo, deve submeter-se e ser mais humilde que um homem mais pecador que ele. Do contrário ele pode tornar-se como o diabo, que, enamorado de si, corrompes tudo o que receber.

             Digo isso com especial conhecimento de causa, pois há alguns anos fui escolhido como diretor espiritual de uma alma que tinha vários dons extraordinários. Pude comprovar a veracidade desses dons em muitas ocasiões, sem que me restasse dúvida a seu respeito. Mas aquela pessoa passou a não escutar mais as direções. Considerava que estava tão avançada na perfeição que poderia ser guiada diretamente pelo Espírito Santo. Ao perceber que uma terrível soberba vinha no horizonte, mesmo distante, minhas indicações se converteram em ordens. Mas a pessoa optou por seguir suas próprias inspirações. De maneira tal que lentamente, ao longo dos anos seguintes, pude contemplar sentado na primeira fila, essa pessoa dizer como havia chegado à soberba. Finalmente dei-lhe um ultimato: ou me obedecia ou eu deixaria de ser seu diretor espiritual.

             Optou por seguir seu próprio caminho, o do Espírito Santo, segundo ela. Um ano mais tarde eu soube, por seus amigos, que ela acabou caindo em pecados cada vez mais graves. Tanto assim que perdeu seus dons; dons que eu havia conhecido e que eram reais e impressionantes. Uma terrível história que sempre me relembra o feito de que no caminho à santidade há muitos que caíram na sarjeta, cujos nomes nunca conheceremos.


Autor - Pe. José Antônio Fortea
Extraído do livro “Suma daemoníaca, tratado de demonologia e manual de exorcistas” (Páginas 70 a 71)

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