Apologética Católica

 Todos os caminhos vão dar a Roma


“TODOS OS CAMINHOS VÃO DAR A ROMA”

Por Scott e Kimberly Hahn


Em Síntese: O livro vem a ser a autobiografia de um casal presbiteriano que se converteu ao Catolicismo mediante atento estudo das Escrituras e da Tradição. Verificaram que muitos preconceitos os mantinham afastados da Igreja Católica; averiguaram outrossim que as duas pilastras do protestantismo - Somente a ‘fe e Somente a Escritura – carecem de fundamento na própria Bíblia. - O marido se converteu em primeiro lugar, ficando a esposa desolada; a seguir, ela devidamente convicta, também abraçou a fé católica.

Nos últimos decênios têm-se registrado numerosas conversões do protestantismo para o Catolicismo, geralmente devidas as graças de Deus e ao estudo das Escrituras Sagradas. A nossa revista tem publicado o relato de algumas dessas conversões, ás quais se acrescenta nesta edição a autobiografia do casal Scott e Kimberly Hahn; também recém-convertidos; referem sua história na obra “Todos os caminhos vão dar a Roma”[1] cujos principais traços vão a seguir.

1 . As etapas de uma conversão

Como foram as principais etapas da conversão de Scott.

1.1 – Preconceitos

Como geralmente acontece entre os protestantes, são marcados por profundos preconceitos contra a Igreja Católica. Assim era Scott;

“No Seminário encontrei um colega chamado Gerry Matatics. Entre os alunos presbiterianos, nós dois éramos os únicos suficientemente inflexíveis no nosso anticatolicismo para defender que a Confissão de Westiminster devia conservar uma tese de que a maioria dos reformados estava disposta a abandonar: O Papa era o Anticristo. Embora os protestantes – Lutero, Calvino, Zwingli, Knox e outros – tivessem muitas diferenças entre si, todos eram unânimes na convicção de que o Papa era o Anticristo e que a Igreja de Roma era a rameira da Babilônia (pág. 41)”.

Scott e sua esposa se colocaram no rol daqueles que odiavam uma falsa imagem da Igreja Católica e não a verdadeira imagem (que eles ignoravam).

O falecido arcebispo Fulton Sheen escreveu um dia “Talvez haja nos Estados Unidos uma centena de pessoas que odeiem a Igreja Católica; mas há milhões de pessoas que odeiam o que erroneamente supõem que é a Igreja Católica (pág. 13).

1.2 – Somente a fé

Scott Hahn era ministro presbiteriano, casado com Kimberly, também ela presbiteriana. Em virtude das suas funções de pregador, Scott teve que estudar com afinco os grandes princípios do Credo protestante, a começar pela primeira pilastra “Somente pela fé” somos salvos.

“....... se era correto ou não afirmar que nos salvamos exclusivamente pela fé.

Pouco a pouco chegamos a ter o convencimento de que Martinho Lutero deixou que as suas convicções teológicas pessoais contradissessem a própria Bíblia,a qual supostamente tinha decidido obedecer em vez de obedecer á Igreja Católica.Tinha declarado que a pessoa não se justifica pela fé atuando no amor, mas que se justifica apenas pela fé. Chegou mesmo a acrescentar a palavra “somente” depois da palavra ‘Justificado’ na sua tradução alemã de Romanos 3, 28, e chamou á Epistola de Santiago ‘epistola falsificada’ porque Santiago diz explicitamente: “Vedes que pelas obras se justifica o homem e não somente pela fé”.

Uma vez mais, e por muito estranho que nos parecesse, a Igreja Católica tinha razão num ponto fundamental da doutrina: ser justificado significa ser feito filho de Deus e ser chamado a viver a vida como flho de Deus mediante a fé com obras no amor. Efésios 2, 8 esclarecia que a fé – que temos de ter – é um dom de deus, não por causa de nossas obras, pelo que ninguém se pode vangloriar, e que a fé nos torna capazes de realizar as boas obras que Deus quer que realizemos. A fé é ao mesmo tempo um dom de Deus e a nossa resposta obediente á misericórdia de Deus (pág. 58).

A rigor, deve-se distinguir entre ‘ser justificado’ e ‘ser salvo”.

“Ser justificado” é tornar-se justo, amigo de Deus, passando do estado de pecado para o estado de graça. – É o que São Paulo tem em vista nas suas cartas.

“Ser salvo” é perseverar na graça recebida até o fim da vida terrestre. Esta perseverança não é possível se o fiel cristão não manifesta a sua fé através de boas obras – É o que São Tiago tem em vista na sua carta.

1.3 – Somente a Escritura

A outra importante pilastra do Credo protestante é o principio “Somente a Escritura”; é regra de vida. Também esta foi desmoronando como narra o próprio Scott:

“Professor Hahn ensinou que a doutrina da sola fides não é bíblica, e que esse grito de guerra da reforma não tem qualquer fundamento quando se confronta com a carta de Paulo. Como bem sabe, o outro grito de guerra da reforma foi a sola Scriptura: que a Bíblia é a nossa única autoridade, em lugar do Papa, os Concílios ou a Tradição. Professor, onde é que a Bíblia ensina que “a Escritura é a nossa única autoridade? ““.

Fiquei a contempla-lo e comecei a sentir um suor frio.

Disse-lhe:

- Vejamos primeiro Mateus 5, 17’ e depois 2Timoteo 3, 16-17: “Toda Escritura inspirada por Deus é útil para ensinar, para rebater, para corrigir e para formar na justiça de modo que o homem de Deus seja perfeito, e preparado para toda obra boa” E depois podemos ver também o que diz Jesus acerca da Tradição em Mateus 15[2]

A sua resposta foi cortante:

- Mas professor, Jesus não estava a condenar toda a tradição em Mateus 15, mas só a tradição corrupta. Quando em 2 Timoteo 3, 16 menciona “toda Escritura” não diz “Só a Escritura” é útil. Também a oração, a evangelização e muitas outras coisas são essenciais. É o que dizer de 2 Tessalonicenses 2, 15[3]?

- Ah, sim .... Tessalonicenses ... – balbuciei debilmente – o que é que se diz ai ?

- Paulo diz aos Tessalonicenses: “Portanto, irmãos, mantende-vos firmes e guardai as tradições que haveis aprendido de nós, de palavra ou por carta”.

Saí pela tangente:

- Ouve, John, estamos a afastar-nos do tema. Avancemos um pouco mais e já voltaremos a falar sobre isso na próxima semana.

Posso assegurar-lhe que ele não ficou satisfeito. Nem eu.

Quando voltei a casa naquela noite, contemplei as estrelas e murmurei: “Senhor, o que é que está a acontecer? Onde é que a Escritura ensina a doutrina da Sola Scriptura?”

Foram duas as colunas sobre as quais os protestantes basearam a sua revolta contra Roma. Uma já tinha caído, e a outra estava a cambalear. Senti medo.

Estudei toda a semana. Não cheguei a nenhuma conclusão. Telefonei então a vários amigos. Sem êxito. Finalmente, telefonei a dois dos melhores teólogos da América, e também a alguns dos meus ex-professores.

Todos aqueles que consultava se surpreendiam de que lhes fizesse essa pergunta. E sentiam-se ainda mais perturbados ao verem que não ficava satisfeito com as respostas que davam.

A um professor disse-lhe:

- Talvez esteja a sofrer de amnésia, mas esqueci-me das simples razoes pelas quais os protestantes cremos que a Bíblia é a nossa única autoridade (pág. 95).

- “Dr. Gerstner, creio que a questão principal é o que a Bíblia ensina sobre a palavra de Deus, já que em nenhum lugar reduz a Palavra de Deus apenas a Escritura. Pelo contrario, a Bíblia diz-nos em muitos lugares que a autorizada Palavra de Deus deve buscar-se na Igreja: na sua Tradição ( 2 Tes 2, 15; 3,6), assim como na sua pregação e ensino ( 1Pe 1, 25: 2 Pe 1, 20,21; Mt 18, 17). Por isso penso que a Bíblia apóia o principio católico do solum verbum Dei. “Só a Palavra de Deus” , em vez do principio protestante sola Scriptura, “Só a Bíblia” (pág. 95).

1.4 – O Governo da Igreja

Complementando sua afirmação que as Escrituras não bastam, Scott apresenta a seguinte imagem:

“Desde a época da reforma, foram surgindo mais de vinte e cinco mil diferentes confissões protestante, e os especialistas dizem que na atualidade surgem cinco novas por semana. Cada uma delas afirma seguir o Espírito Santo e o sentido autentico da Escritura. Deus sabe que devemos precisar de algo mais.

O que quero dizer, Dr. Gerstner, é que quando os fundadores da nossa Nação nos deram a Constituição, não se contentaram só com isso. Imagine o que teríamos hoje se a única coisa que nos tivessem dado fosse um documento, por muito bom que fosse, junto com a recomendação “Que o espírito de George Washigton guie cada cidadão”? Teríamos a anarquia, que é precisamente o que temos os protestantes no que se refere á unidade da Igreja. Em vez disso, os nossos pais fundadores deram-nos algo mais do que a Constituição; deram-nos um Governo – formado por um Presidente, um Congresso e um Senado – todos eles necessários para aplicar e interpretar a Constituição. E, se isso é necessário para governar um país como o nosso, o que é que será necessário para governar uma Igreja que abarca o mundo inteiro?

É por isso, Dr. Gerstner, que começo a acreditar que Cristo não nos deixou apenas com um livro e o Seu Espírito. Alias, no Evangelho não diz uma única palavra aos apóstolos acerca de escreverem: alem disso só menos da metade deles escreveram livros que foram incluídos no Novo Testamento. O que Cristo disse realmente a Pedro, foi “Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja ... e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Por isso parece-me mais lógico que Jesus nos tenha deixado juntamente com a Sua Igreja – composta por um Papa e Concílios - tudo que é necessário para administrar e interpretar a Escritura ( pág 94s).

1.5 – A Eucaristia

Scott se refere ás aulas que dava sobre João 6, 22-66:

“Comecei imediatamente a pôr em causa o que os meus professores me tinham ensinado - e o que eu próprio andava a pregar á minha congregação – a respeito da Eucaristia como um mero símbolo, um símbolo profundo certamente, mas apenas um símbolo.

Depois de muita oração e de muito estudo, acabei por reconhecer que Jesus não podia estar a falar simbolicamente quando nos convidou a comer Sua carne e a beber o Seu sangue. Os judeus que O ouviam não teriam ficado ofendidos nem escandalizados com um mero símbolo. Alias, se tivessem interpretado mal Jesus, tomando as Suas palavras á letra - quando Ele queria que as palavras fossem tomadas em sentido figurado – teria sido fácil ao Senhor esclarecer esse ponto. Na verdade, já que muitos dos discípulos deixaram de O seguir por causa deste ensinamento (vers. 60), teria estado moralmente obrigado a explicar que falava apenas em termos simbólicos.

Mas nunca o fez “(pág. 68)

2 Conclusão

Em conseqüência das convicções adquiridas pelo estudo sincero e sistemático, Scott houve por bem abraçar o Catolicismo, mesmo á revelia de sua esposa, a qual só mais tarde se converteu.

É muito interessante observar a caminhada dos convertidos até a fé católica: a Graça os impete a superar hesitações, obstáculos, comentários.

Os pontos abordados por Scott interessa a todo cristão desejoso de encontrar a Verdade religiosa. A experiência de Scott vem a ser escola para outros. Os argumentos são claros. O protestante que afirma serem 66 os livros da Bíblia, não o pode provar pela Bíblia; recorre á Tradição dos judeus de Jâmina, embora diga que segue somente a Bíblia.


Revista “Pergunte e Responderemos” – Edição 501 – Março 2004(Pág.117 a 121)

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